O que se sabe e o que falta saber sobre o professor de jiu-jitsu preso acusado de estupro
Segundo a polícia, pelo menos 12 vítimas já foram identificadas, e outras seis aguardam para prestar depoimento. As investigações revelaram que os crimes ocorreram entre 2011 e 2018. Alcenor Alves, de 56 anos, mestre de jiu-jitsu
Reprodução
O treinador de jiu-jitsu Alcenor Alves, de 56 anos, foi preso durante um evento esportivo em Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, no ultimo sábado (23), suspeito de estupro de vulnerável e exploração sexual de 12 atletas menores de idade ao longo de mais de uma década.
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Segundo a PC-AM, o suspeito era diretor técnico em uma escola de alto rendimento em Manaus, e viajava com alunos para competições. Em seu perfil nas redes sociais, o treinador costumava compartilhar fotos e vídeos de seus alunos, crianças e adolescentes, durante treinamentos e competições em outros estados e até no exterior.
O g1 fez um levantamento do que se sabe e o que falta saber sobre o caso:
Quantas vítimas foram abusadas?
Qual o perfil das vítimas?
Há quanto tempo os abusos ocorrem?
Como os abusos ocorriam?
Suspeito agia sozinho?
O que dizem as entidades do esporte
O que diz a defesa
Quantas vítimas foram abusadas?
Os quatro atletas emitiram uma nota conjunta nas redes sociais
Divulgação
Segundo a polícia, pelo menos 12 vítimas já foram identificadas, e outras seis aguardam para prestar depoimento. Na noite desta segunda-feira (25) os atletas Matheus Gabriel, Ary Farias, Meyram Maquiné e Thalison Vitorino emitiram uma nota conjunta nas redes sobre a iniciativa de denunciar o professor.
"Como muitas outras vítimas, sentimos vergonha e medo de denunciar. Esse silêncio nos acompanhou por muito tempo, mas agora, com mais coragem, decidimos dar uma passo à frente. Acreditamos que é necessário para buscar justiça e prevenir que outras pessoas passem pelo mesmo", diz a nota.
Qual o perfil das vítimas?
De acordo com a Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), o treinador buscava crianças que participavam de projetos sociais de jiu-jitsu em Manaus. A maior parte das vítimas identificadas até o momento possuíam vulnerabilidades sociais. Todas são homens.
"As investigações apontam que ele teria abusado de meninos que são campeões mundiais de jiu-jítsu e os teria explorado sexualmente, oferecendo presentes e favores, comprando kimono, mediando passagens e estadias para disputa de campeonatos", contou a delegada.
Há quanto tempo os abusos ocorrem
As investigações revelaram que os crimes identificados ocorreram entre 2011 e 2018, mas de acordo com a delegada adjunta da Depca, Deborah Ponce de Leão, mídias encontradas na residência do professor indicam que podem haver crimes recentes.
"A gente tem materialidade nesse sentido sim, inclusive eu gostaria de ressaltar que ele é um individuo que sabe que está errado, mas continua praticando isso, porque esses vídeos e fotos que temos são recentes. Embora ele tenha vítimas no passado, ele continua a praticar esses crimes", disse a delegada.
Como os abusos ocorriam?
Segundo a delegada, os abusos sexuais eram praticados durante estadias em outras cidades para participações em campeonatos interestaduais e na casa do investigado, onde ele as dopava para consumar os delitos. Em algumas situações, o indivíduo dava banho nas vítimas, que já eram adolescentes, e aproveitava a ocasião para tocar em suas partes íntimas.
Um atleta que foi vítima de Alves contou que o treinador o masturbava, o beijava e praticava sexo oral com ele, enquanto criança. "Eu tinha apenas 10 anos e não sabia o que estava acontecendo. Eu me tremia de nervoso e no final do dia chorava perguntando porque aquilo aconteceu comigo".
"Ele sempre fez isso com crianças que não tinham uma boa condição. Ele procurava sempre me manipular e falava que me tinha como um filho, me prometia muitas coisas, mas eu era somente mais uma criança que estava sendo abusada em sigilo", concluiu.
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Suspeito agia sozinho?
Até o fechamento desta reportagem, as investigações da Polícia Civil apontam que Alcenor Alves agia sozinho para cometer os crimes, desde o aliciamento das vítimas, até as praticas criminosas. A PC não informou se existem outros suspeitos de participação no caso. O processo corre em segredo de Justiça.
O que dizem as entidades do esporte?
Federações de jiu-jitsu e uma associação de professores de educação física se manifestaram em repúdio ao professor. O presidente da Federação de Jiu-jitsu do Amazonas (FJJAM), Elvys Damasceno, informou que após as denúncias houve uma reunião com a diretoria da federação e foi decidido pela expulsão do professor da entidade.
"Pedi a cassação da faixa (preta) dele a nível estadual e nacional. Então afirmamos que a entidade não compactua com qualquer tipo de violência, muito menos de crianças e jovens", disse o presidente.
A Federação Amazonense de Jiu-Jitsu Profissional (FAJJPRO) emitiu uma nota nas redes sociais onde repudiou as graves denúncias e as provas que foram colhidas contras as crianças e adolescentes da comunidade do jiu-jitsu regional.
"A FAJJPRO não medirá esforços para colaborar com as autoridades e implementar ações que fortaleçam a proteção e o bem estar de todos os atletas. Esta federação jamais será conivente com situações que afrontem os princípios de respeito, ética e segurança", completou a nota.
Também por meio das redes sociais, a Federação Amazonense de Jiu-Jitsu Esportivo (FAJJE), emitiu uma nota onde manifesta sua repulsa a qualquer ato criminoso, em especial aqueles que ferem gravemente os princípios de respeito e proteção aos vulneráveis.
A FAJJE reafirma que não compactua com qualquer conduta que contraria a lei, ética e os valores morais que sustentam a prática do jiu-jitsu como ferramenta de transformação social e promoção a cidadania. Seguiremos trabalhando para assegurar que a prática do jiu-jitsu continue sendo motivo de orgulho" .
A Associação dos Profissionais de Educação Física do Estado do Amazonas (APEFAM), em nota, repudiou toda e qualquer manifestação de assédio, importunação e violência contra as pessoas. Na publicação, a associação também pede que as federações que regulam a modalidade no estado suspendam imediatamente o treinador.
"Reiteramos ainda a importância de denunciar situações de assédio, importunação ou violência sofridas em qualquer ambiente, pois é através de denuncias que se torna possível coibir tais atos", diz a nota.
Até o fechamento desta reportagem, a Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBBJJ) e Federação Brasileira de Jiu Jitsu (FBJJ), não haviam se manifestado sobre a prisão.
O que diz a defesa
A defesa do suspeito afirmou que o processo corre em segredo de Justiça e que espera tomar conhecimento dos fatos e das provas apresentadas. Disse, também, que ainda não teve contato com o cliente porque eles está preso em Santa Catarina.
"A defesa solicita que faça um esclarecimento quando obter o conhecimento dos fatos e de todas as provas elencadas nos autos", conclui a nota.
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