'Cria' de projeto social e cantora: conheça a empreendedora que fundou festival de cultura afro referência no interior de SP
Elaine Teotonio, de 42 anos, criou o Afropira. A 11ª edição do evento ocorre no Engenho Central de Piracicaba (SP) neste Dia da Consciência Negra. Piracicaba recebe evento 'Afropira' em comemoração ao Dia da Consciência Negra
“Juntos somos mais fortes” é a tradução da expressão akanni no idioma nigeriano Iorubá e é, também, símbolo do início da trajetória de sucesso da empreendedora e cantora de Piracicaba (SP), Elaine Teotonio. Há 11 anos, ela e o marido, Marcos, criaram um dos maiores festivais de cultura afrobrasileira do interior de São Paulo, o Afropira. O evento reuniu 19 mil pessoas no ano passado.
Nesta quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra, o Festival Afropira oferece dez espaços com shows, roda de capoeira, feiras e exposições no Engenho Central de Piracicaba.
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Akanni é o nome do projeto sociocultural que conduziu Elaine, de 42 anos, e outros afroempreendedores de Piracicaba (SP) nos primeiros passos na música. A cantora demonstra gratidão e reconhece a importância que a iniciativa teve em sua vida. Agora, é ela que segue com atividades de valorização das manifestações e celebração da cultura negra.
“Sempre trabalhei na área musical. Fui atendida no projeto social Akanni para poder aprender a cantar. Na minha vida, eu sempre cantei. Segundo a minha avó, eu colocava as bonecas para me ouvirem cantar", relembra. "Percorri essa trilha toda em relação à música, fiz aula de canto, de percussão, violão. Tudo através do Akany. Foram eles que abriram o caminho", conta.
Elaine Teotonio é afroempreendedora em Piracicaba e criadora do Festival Afropir
Paulo Preto Fortunato/Reprodução
Como tudo começou?
No fim dos anos 2000, Elaine se formou no projeto e começou a cantar na noite. Paralelamente, a empreendedora dava aulas de canto em projetos sociais. No trabalho em uma dessas iniciativas, ela encontrou o Marcos. Ele era mestre de capoeira e a cantora, professora de música. Juntos, eles resolveram criar um projeto de valorização da herança cultural africana.
"Queríamos ensinar a todos a nossa cultura negra. Ao mesmo tempo, os nossos próprios alunos tinham resistência em falar que eram negros, que eram pardos, pretos. Eles sofriam com isso. Ainda tem pessoas que dizem que há racismo entre nos mesmos. Mas, não. Não há. O que temos é dor, devido à forma como essa historia foi contada", argumenta.
Elaine Teotonio é afroempreendedora em Piracicaba e criadora do Festival Afropir
Paulo Preto Fortunato/Reprodução Afropira
Naquela época, Marcos e Elaine, que depois se casaram, eram amigos de trabalho.
Ali, começamos a fazer um projeto de como contar essa história com o olhar afrocentrado, não eurocentrado", relembra. "O trabalho ficou tão bonito que não poderia parar. Chegamos a uma conferência municipal . O projeto ainda não tinha o nome de Afropira. Desejávamos levar o evento para o Engenho Central. Com esforço, estudo, dedicação, conseguimos. Hoje, tem espaços", celebra.
Festival Afropira de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
O projeto, batizado de Afropira, cresceu com novos núcleos como o de do hip hop, tranças, a área de alimentação. "Depois, chegaram os espaços das religiões de matriz africana também", elencou.
O evento também reúne shows, oficinas e encontros em locais como Clube do Saudosista, Instituto Afropira, Bar Dolores House e Engenho Central, além do Sesc.
Círculo
Elaine destaque que o objetivo principal do projeto é o reforço da representatividade negra. "Trabalhamos nossa cultura, o pertencimento e a valorização das nossas raízes", afirma.
Tudo na cultura africana é circularidade, define a afroempreendedora.
"Vemos isso na capoeira, por exemplo, e em todas as nossas manifestações, sempre em círculo. Temos hierarquia e respeitamos aqueles que chegaram antes. Reverenciamos os mais velhos. Mas, nessa circularidade, os mais velhos também aprendem com os mais novos. Essa troca intergeracional em África é maravilhosa. Quando se aprende, também se ensina”, observa.
11º Afropira ocorre de 14 a 20 de novembro em Piracicaba
Claudia Assencio/g1
A empreendedora vivencia isso na família. "Com cinco anos, meu esposo Marcos, que é filho de um dos mestres mais antigos de capoeira em Piracicaba, já fazia capoeira e não dá para saber, ao certo, quando ele passa a ensinar, porque é assim que funciona na nossa tradição. É difícil saber quando ele começa a dar aula. O mesmo ocorre com meu filho, que hoje tem sete anos e já nos ajuda em aulas.
Bullying racial
O projeto Afropira nasce de um desejo de luta contra o bullying racial e o casal de educadores escolheu o caminho da cultura para iniciar esse combate.
"Enfrentávamos questões que hoje chamamos de buylling racial. Acontecia ali, dentro do projeto, embora não se falasse tanto. Assim como é no Brasil, em que temos a maior população de pretos e pardos, era no projeto. Mas a outra população que frequentava o Case fazia bullying", lamentou.
O casal decidiu desenvolver trabalhos com referências e histórias afrocentradas. "Assim que começamos, nós fomos aprendendo o dia a dia, como lidar com empreendedorismo... E toda a nossa bagagem. Fomos estudar e nos profissionalizar, fizemos cursos no Sebrae", contou.
Atualmente, Elaine e seu esposo, Marcos, têm a ETC Produtora, que atua com a agenda de eventos de ambos e do bloco Afropira, que realiza ao longo de todo ano ações e atividades ligadas ao evento. Hoje, a empresa também é voltada para escrita de projetos culturais e assessoria.
Programação do 11º Festival Afropira começa na quinta-feira, 14, às 20h, no Sesc Piracicaba, com show da Leci Brandão.
Divulgação/Afropira
Maior encontro afro
O 11º Afropira realiza, ainda, o Encontro Intermunicipal da Unegro (União de Negras e Negros pela Igualdade. O evento tem presença especial de Roukiatou Hampâté Bâ, da Costa do Marfim, filha do intelectual Amadou Hampâté Bâ.
O evento foi iniciado em 2013, com o intuito de comemorar e refletir sobre o Dia da Consciência Negra e é realizado pelo Instituto Afropira.
Entre as atrações do festival, que acontece até o dia 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), estão Lucas Morato (filho do também cantor Péricles), Grupo Envolvência e Grupo Samba de Cosme.📝A programação completa está disponível no site. Clique👉 aqui.
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